Filho de um migrante Libanês, Nagib herdou a profissão do pai, que vendia verduras de casa em casa. Com ele, sonho cresceu e em 1955 a Casa de Frutas Canadá foi inaugurada. Seu Nagib deixava os produtos expostos na Casa de Frutas Canadá
Arquivo Pessoal/Leila Luiza Kaiel
Morreu nesta quarta-feira (8), aos 91 anos de idade, o comerciante Nagib Kaiel, dono da Casa de Frutas Canadá.
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Da porta da frutaria, que ficava no Centro de Curitiba, o comerciante acompanhou, durante mais de 40 anos, os principais acontecimentos históricos que marcaram a capital paranaense.
A morte, decorrência de complicações causadas pela idade, foi confirmada ao g1 pela filha de Nagib, Leila Luiza Kaiel.
Filho de um migrante Libanês, Nagib herdou a profissão do pai, que vendia verduras de casa em casa, carregando uma cestinha. Com ele, o sonho cresceu e em 1955 a Casa de Frutas Canadá foi inaugurada.
“O meu pai viu tudo. Viu o Centro crescendo, o Centro se desenvolvendo. Ele acompanhou a Guerra do Pente. Era engraçado atravessar a Rua XV de Novembro com ele, porque ele cumprimentava todo mundo. Todo mundo conhecia meu pai”, lembra a filha.
Nagib será velado na capela 4 do Cemitério Parque Iguaçu, na quinta-feira (9), a partir das 9h até às 14h.
O segredo do feitiço
Nagib Kaiel no início da Casa de Frutas Canadá
Arquivo Familiar/Leila Luiza Kaiel
Diariamente, por mais de 60 anos, Nagib organizava as frutas em caixas na frente do comércio.
O cheiro convidativo das frutas chamava a atenção de quem passava pela região e muitas delas se tornaram clientes.
Entre as pessoas enfeitiçadas pelo aroma frutado da Casa de Frutas Canadá está Francis Ford Coppola, diretor de “O Poderoso Chefão”. Em 2003, durante uma breve passagem que fez por Curitiba, o cineasta visitou a frutaria algumas vezes e se tornou amigo de Nagib.
“A casa de frutas do meu pai guiava as pessoas pelo perfume. Ele parou e ficou encantado. Falou com meu pai e pediu ‘two bananas’. Cada vez que ele ia ao Cafe Mettropolis ele passava na frutaria do meu pai”, lembra Leila.
Ao fim da visita, o cineasta deu uma garrafa de vinho da própria vinícola para o comerciante. Outras visitas ilustres passaram por lá, como os cantores Gonzaguinha e Alcione, por exemplo.
Portas fechadas
A Casa de Frutas Canadá fechou as portas em 2015. Pouco antes, Nagib teve descolamento de retina e passou por uma cirurgia de cataratas nos dois olhos, o que o levou a precisar de cuidados médicos mais intensos.
Após a cirurgia, ele até tentou continuar com a frutaria, no entanto, passou por um assalto, no qual os criminosos o deixaram preso no banheiro do estabelecimento. A situação traumatizante foi a gota d’água para que as filhas decretassem o encerramento do negócio, apesar da teimosia do pai.
“Foi como se fosse um puxão de tapete para ele. É uma mudança muito brusca, porque ele trabalhou por mais de 80 anos”, conta Leila.
O espaço que era usado pela casa de frutas logo foi ocupado por outro comércio. Porém, a ausência que ele deixou dura até hoje.
Apesar disso, a presença da Casa de Frutas Canadá sobrevive nas memórias, especialmente das filhas de Nagib, que tiveram a oportunidade de crescer dentro do comércio.
“A minha irmã, com um ano de idade, começou a andar lá dentro. Ela não andava sozinha, não soltava, meu avô deu uma laranja baiana para ela, ela se agarrou na laranja e saiu andando”, lembra Leila, com carinho.
Nagib carregando uma cesta de frutas para fazer a entrega de pedido a um cliente
Arquivo Familiar/Leila Luiza Kaiel
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